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07/06/2017

Sangrando

Estou sangrando.

Sangrando,

sangrando,

sangrando...

sangue.

Estou sangrando
pelo meus olhos,
estou sangrando
pelos meus ouvidos,
estou sangrando
pelas minhas unhas roídas,
estou sangrando
pelas minhas dúvidas.

Sangrando,

sangrando,

sangrando...

Estou sangrando
pelos meus dentes e
gengivas, nariz, virilhas,
pelos meu pênis, anus,
sangrando pelo meu medo.

Sangrando,

sangrando,

sangrando...

Estou sangrando
pelo meu ódio
e pelo meu amor.

E essa sangria desatada
escorre de meu corpo
através do chão
num filete de rio vermelho
na poeira árida
até o boeiro da minha
existência.

E continuo sangrando
e esvaindo-me
em minhas crenças
e descrenças.

Sangrando por minhas
vãs promessas.

Sangrando,

sangrando,

sangrando,

todo esse sangue...

São Gonçalo, 05 de junho de 2017.  

18/05/2017

Adeus Orgia

O poeta se parece cada vez mais
com o espelho
que vislumbra insone
o desejo que o devora.

A insônia de uma paixão
natimorta,
um beijo,
um sexo...
um queijo.

O poeta se parece cada vez mais
com os dias
nos quais se arrisca nas ruas
sob o sol de meio dia,
sem álcool.

Adeus, azia.
Olá, melancolia.
Adeus, orgia.
Olá, apatia.

O poeta já não sorri,
já não sente dor da alma,
já não arde de temor,
e nem com o clamor insano
de querer
guerra
&
paz
de espírito.

O poeta se parece cada vez mais
com o espelho
e o aparelho de barbear
já não tem mais efeito.

Os olhos vermelhos
Já não são rubros de lágrimas
e a boca entreaberta
é apenas um cemitério
de palavras.

O poeta se parece cada dia mais...
dia mais,
dia menos,
cada dia,
de dia...

E de noite se desfaz
em poesias espelhadas
de sua angústia emparedada
nos porões de sua alma.

No coração irreflexível,
Não há vestígios de desejos
guerra
&
paz
de espírito...

um beijo,
um sexo...
um queijo.

O poeta se parece cada vez mais
Com sua poesia.




16/05/2017

Ratos

Eu que tenho andado em becos escuros
e comungado com ratos,
que tenho me ajoelhado diante da cruz
e esquecido meu punhado de orações,
que tenho frequentado bares em noites vazias
e me embriagado de solidão.

E já não me importo
se os bares fecharem,
se a cruz me crucificar ou
os ratos comungarem
com minha carne.

Dê-me suas mãos
e toque minhas vergonhas.
Sinta como inexisto
para o mundo de possibilidades
e promessas e glórias e
desejos.

ratos, ratos, ratos

Se refestelam à minha frente
sorrindo pequenos delitos.

Rimbaud está numa esquina
se esfregando num mestiço
alto, robusto e com dentes de ouro,
enquanto Verlaine bebe solitário
o seu absinto e carrega sua pistola.

PJ Harvey me atravessa
como um fantasma distorcido
e grito o seu nome sorrindo,
mas minha voz
é como uma súplica
dentro de uma garrafa.

Pessoa pisca para mim e digo:
- Ei, não sou um dos seus moços de frete!

ratos, ratos, ratos

O relógio, eterno ouroboros
incessante e cáustico devorador
que rasga e revira
por dentro de memórias
guardadas a sete chaves.

ratos, ratos, ratos

ratos, ratos, ratos, ratos

mais setes vezes ratos

Eles comungam comigo em becos escuros
e sorriem nossos pequenos delitos.

São Gonçalo, 16 de maio de 2017.

30/03/2017

Isso aqui não é um poema

- não sei mais ser
um ser poeta
já não meço rimas
não ligo pontos     e    vírgulas
já não escrevo
em linha 
reta

não sei mais ser
um ser
não sei mais ser

porque ser precede alguma
coisa
e já não quero que esperem
alguma coisa sei lá o quê
daquilo que já não posso
ser

não sei mais ser
um ser humano
as vezes ando de quatro
outras quase rastejando
mas nem uma coisa
nem outra
nem sagrado nem profano

não sei mais
nem ser
nem não ser

olho de baixo para cima
de cima para baixo
para a esquerda
para a direita
e já não há poesia
em ser alguma coisa

não sei mais ser
um ser poeta

e isso aqui não é um poema -

São Gonçalo, 28/03/2017.

28/07/2016

O Silêncio da Noite

Sssshhhhhhhh...

...O silêncio da noite vem chegando.
O meu peito rasgado, soturno e oprimido,
enfim, saciará o anseio pelo descanso.
O dia rasgou-me ao meio
e minh'alma encheu-se de espinhos
ao tempo em que me arrasto e vagueio
amargo e pávido em meus próprios caminhos.

Mas agora, ei de me acalmar,
minhas vísceras recebem aliviadas
o cheiro da noite que está por chegar.
Festa na floresta! Bruxas a cantar!

E nas ruas, a boemia de bar em bar.
E no meu quarto vazio e escuro
encontro na noite a mais bela amante
que sopra seus mistérios em meus conjuros,
para que as estrelas em perpétuo levante,
me envolvam em singelo, torpe e puro
descanso de mais um dia inquietante.

Sssshhhhhhh...

...o silêncio da noite vem chegando.


19/07/2016

Filho de Caim

Queria eu não ser
filho de Caim.
A marca na testa,
o pecado estampado
na alma.

[pecado é um anjo caído
no centro da cidade e
que dança
torpe e ensandecido
o jazz
nas noites
tristes e solitárias]

Pecado é desejar
suas curvas
enquanto tudo é proibido
num mundo onde
homens e mulheres
fingem entender
que o inevitável querer
pode anoitecer ou entardecer
dentro de um quarto escuro
e vazio de lembranças.

Queria poder caminhar
sem o peso do mundo
em minha alma.

Mas o mundo todo
serve para isso:
ser levado em viagens
que se findarão antes
mesmo da serpente
morder a própria cauda;

Em breve amanhecerei
e a cidade deixará de ser
soturna, então haverá
carros, pernas, bocas,
pássaros sujos em busca
de restos, crianças,
soldados e tudo, tudo o mais
que se possa caber
numa cidade -

A marca dormirá
em minha testa, eis
minha herança maldita,
minha decadência...
... mas o jazz...
...o pecado...
...as suas curvas...
me faz lembrar
que mais ao final do
dia, mais uma vez
despertará minha
atroz solidão.

São Gonçalo, 11/09/2014 (Bar Navegante) 

16/05/2016

O Antigo Livro dos Sonhos

Ouvi o som do silêncio
e ele era ensurdecedor.

A flor cresceu no asfalto
contra todas as possibilidades
e o dia fechou os olhos flamejantes
com suas pálpebras estreladas.

Vencer sempre cansa
e tenho tido escorpiões
em meus dias e nenhuma lua
no meu céu a iluminar
o meu jardim e nenhum cão
para latir em meu quintal e
nenhuma música após o café
frio servido pelo tempo
e pelos náufragos sentimentos
do oceano que crispa no peito.

Tudo é uma questão de interpretar
o antigo livro dos sonhos.

Mas já não posso sonhar
se estou acordado
numa eterna vigília
a contemplar o silêncio...

... ensurdecedor...


São Gonçalo, 16 de maio de 2016.

18/04/2016

O Choro do Rio

Sol ferve sobre o monte
- de Vênus -
esverdeado,
saliva amarga
de noites ululantes.

Mosquitos falantes
e fadas desnudas, grilos,
muitos bichos, grilos...
& sentimentos engarrafados
que não se pode beber
senão envenena alma
& coração.

Perna inchada, cabeça cheia,
turvas lembranças
de porra nenhuma,
des-con-si-de-ra-ção:

- faça um amigo e ele saberá te maltratar mais que um inimigo -

, o rio canta suave à esquerda,
ou à direita (e cantam à
direita ou à esquerda felicidades
destiladas, desbirlotadas ou
encenadas).

Transas e tranças no ar e eu
não tenho transado e não
tenho mais tranças, minha calvície
reflete o que sou
em rugas de expressão,
ideias que mudam com
as estações e preguiça
após o almoço.

Eram tempos imemoriais.

Penso assim como dispenso
e ouso cantar
com o choro do rio
que se lamenta
e se desfaz em cascatas
em algum lugar...
...
...


Aldeia Velha (Aldeia Rock Festival XV), 25 de março de 2016.   
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04/04/2016

Jardim Obsceno

Ou poema para ser musicado numa tarde de primavera

Quantas, quantas rosas
Tem no meu jardim?
Eu já perdi as contas
Das rosas, das rosas!

Umas são vermelhas,
Outras têm espinhos,
Mas sei, todas as rosas
Nascem pro carinho.

Umas são carnudas,
Outras despetaladas,
Mas sei, todas as rosas
Podem ser amadas.

Quantas, quantas rosas
Têm no meu jardim?
Já perdi as contas
De quantas eu beijei.

Umas têm desejos,
Outras nunca sonham,
Mas rosas são sensíveis,
C'um toque se envergonham.

Eu já colhi rosas
De todas as cores 
E Pragas e suspiros
De muitos amores.

Quantas, quantas rosas
Tem no meu jardim?
Eu já perdi as contas
de quantas deixei. 

São Gonçalo, 2007.

20/03/2016

A Vida Dói



A vida dói na essência do corpo.
Sensações análogas da existência.
Dói a dor da complexidade da alma,
êxtase entorpecimento dos sentidos.

O sentinela está morto!

O deus se mostra no cômodo
barato de dormir
numa cópula ensandecida.
A rainha branca
abre as pernas para o peão preto.
Então tudo é mistério...

O universo: carrossel de mistérios!

Todas as lágrimas transformam-se em oceano
quando navegamos em tristeza.
Os ratos invadiram a dispensa,
O cão velho ladra
mas não tem forças para morder.
Não há estrelas no céu da cidade.
Verdade, mentira e omissão:
ménage a trois.

Se o coração já bate,
por que a vida bate?

A vida dói.
As vezes, até sem querer.
Dói na contestação da própria morte.
O mito, queimou-se no incêndio
dos arquivos da biblioteca
(quando ainda não havia internet)
e sumiu para sempre.

O padre reza, o pastor ora,
a mãe-de-santo recebe,
o governo tira, o ladrão toma,
a puta dá, a polícia prende,
o advogado solta, o médico cura,
a testemunha jura, o marido mente,
a cigana ri e o poeta,
o poeta dói.
O poeta dói na essência
e na complexidade da própria vida.


01/03/2016

As Garças do Rio Imboaçu

Vestem-se de negra essência
sobre suas penas
e pescam a desesperança
na agonia de seus dias.

sobrevoam a miséria sob seus olhos -
seus bicos fétidos
tem a misericórdia divina

! e batem as asas da pobreza...
vupt...povertà...vupt... povertà...
vupt...povertà!

Os ribeirinhos maldizem
o voo mendicante mas elas
têm o amor e o perdão de Deus.

Pois Deus perdoa
os pobres
e miseráveis
em seus banquetes vazios
de querência e sofreguidão.

- genuflexão -
[Ah, Senhor, perdoa-nos a nós também
em nossa conduta maldita! Não somos garças, mas somos mendigos de nossas próprias prisões de desejos]


Um brilho vem do céu, mas com ele
a sombra de uma garça que pousa
sobre os restos dos restos de todo
o resto da humanidade.

Pobres criaturas...

Como são pobres as garças
do Rio Imboaçu.

São Gonçalo, 26 de fevereiro de 2016.

31/01/2016

Cantiga de Ninar Monstros

: cáusticos timbres.

Sol na cara lambendo 
a juventude
que se esvai 
com o sopro do tempo.
O amor vai ao supermercado
e traz o almoço:
coração congelado.

Faca que corta o pão, fere a carne.

Desprazer em conhecer
a verdade.
Sexo é bom.
Mas estou entediado
para tirar e botar...

...a roupa. 

Niterói, 14 de janeiro de 2016. 

24/01/2016

Casinhas Bonitinhas Feitas de Chocolate


A casa está vazia, papéis...
muitos papéis espalhados:
poesias, velhas histórias de paixões
que morreram prematuras,
telefones fúnebres e mil 
folhas em branco a serem
preenchidas por ideias vazias
(assim-como-a-casa-está)
e não há um diabo em qualquer
garrafa para tentar-me
à antiga dança na qual já fui
um exímio trôpego bailarino.

Meu peito dói a dor de mil
poemas guardados...
Eles sobem à garganta e 
rumino-os com a paciência
dos monges tibetanos, 
engulo-os novamente e
me vem a azia das noites
mal dormidas dos pesadelos
indecifráveis & meu estômago,
ego, fé, amor, paz, queimam
ao gosto das palavras não ditas -
silenciadas entre os dentes - e
guardadas para as várias folhas
em branco espalhadas.
Vou inchando de insatisfação
e querência, mas a casa
continuará vazia 
até não sei quando 
e a minha alegria
morreu envenenada à minha porta
após uma noite em que eu sonhei
com crianças afogadas e 
casinhas bonitinhas feitas de chocolate.

São Gonçalo, 10 de junho de 2014.

21/01/2016

Pássaros Cegos Assoviam um Blues

- é um sentimento estranho -
quase uma tortura.
É abster-se dos ecos interiores,
é ser abatido em pleno voo
pelo artilheiro de um país insular.
- é um sentimento estranho -
sempre uma decepção.
vento que venta lá
venta sempre por lá.
montar um templo,
seguir a si mesmo no escuro
e ver que o templo
não resiste ao tempo
e ver que os passos
não passam de passado.
canções de ninar,
preços salgados em doces
que não se pode comer
depois de escovar os dentes,
jornais escritos para forrarem
o fundo de gaiolas
onde pássaros cegos
assoviam um blues,
amores líquidos,
passagens para marte em
liquidação,
sonhar de olho aberto
com o mundo quadrado
na palma das mãos.
- é um sentimento estranho -
quando se volta pra casa
e vê que as flores morreram
porque você estava fora.

São Gonçalo, madrugada de 09/01/2016.

Abstêmio em Curitiba

Não bebo nada, nada mais
senão a chuva.
Os bares estão cheios
e estou com sede de poesia,
insensatez e devaneios.
Eu, vazio de possibilidades
vejo as boutiques e rezo
a um São Francisco cachaceiro
que me observa da esquina turva,
branca, fria e crua...
Mas eu só bebo da chuva
e me entrego a saudades
imemoriais, entoadas da alma
e cantaroladas dentro de um peito
carregado de nuvens de lágrimas
e copos cheios de anseios.
Os bares? Os bares estão cheios...
Mas lá eu não vou.
Pois os bares não vendem
chuva engarrafada.

Curitiba, 29/12/2015.

14/07/2015

Cerveja, chope, cerveja...

Saio nas ruas em busca de fôlego, ar pesado carregado, vago cerveja, chope, olhares vazios, sensações de desespero e felicidades plásticas com produtos plásticos de marcas que marcam e ficam nas mentes erguidas e luminosas. Erro passos nos caminhos desfocados e percebo que lá fora tudo é mais distante. Distância que se mede olhando o horizonte e o olhar perdido de perdidos na noite da ilusão em ravisgos que foram por terra.Sim, já não há mais salvação, já não há bote salva-vidas que preste o pulo na poça da angústia, mas há o tempero do ácido, o beijo de Judas, Grapete em garrafas de plástico, Zico na India, calcinhas de amigas secando no box do banheiro, remakes de filmes que julgavam obras-primas, conhaque de gengibre nas esquinas quentes de São Gonçalo, ex-putas carentes que sonham com romance, vida após a morte, políticos sorrindo em eventos de arte, xoxotas raspadas em puteiros de Niterói a 60 pratas, o fim do mundo dos maias, Copa do Mundo, Olimpíadas, veto, voto vendido, voto comprado, venda nos olhos, paixão não correspondida, antiácido, vodka, peido no elevador, sexo na rua, febre ao sol de meio dia, trabalhos acumulados, cerveja, cerveja, cerveja, catador de latinhas atropelado na esquina, churrasquinho de gato, merda, oração de proteção, crianças vendendo chicletes às 2 da manhã, Papa em Cuba, música ruim na jukebox da padaria, o computador não funciona, amigos que não ligam, dormir às 21 horas, punheta, insônia, Raul Seixas estalando na vitrola, molho de tomate vencido, greve de ônibus, cachorro-quente do Careca, amigos que não atendem o telefone, crise nervosa da chefe, dor na costas, Bob Dylan a 800 Reais, cerveja, cerveja, cerveja, achar a bula do remédio genérico, fornicação à vista, tiros, paz, descanse em paz, gentileza gera gentileza, foda-se, fuga para as montanhas, cachorro vira-latas virando lata, fobia de multidão, sorvete de flocos, meias limpas, literatura contemporânea, pratos sujos na pia, objeto voador não identificado às 3 da manhã, saudades do ócio e da barra da saia da mãe... cerveja, chope, cerveja e a solidão está ali sorrindo e dizendo: Sim, eu ainda sou um bom negócio.


Intervenção poética em 2013, no show da banda Wagner José e Seu Bando, na Casa de Vidro no Jazz Blues; Blues Rio das Ostras com o poema "Cerveja, Chope, Cerveja" embalado pelo fundo musical de "Blues da TV".

30/06/2015

Poesia

Toda poesia é amarga.
É um amargo que não desce
em qualquer garganta.
E todos os versos dos poetas
regurgitados e atirados como flechas
em direções incertas.
A palavra é intrusa do ouvido,
rasga os tímpanos,
invade o âmago,
e dos olhos faz nascer a lágrima.
Toda poesia é insensata,
na insensatez do cômico destino.
É um riso histérico,
um desconforto,
uma verdade quase nunca revelada,
onde a caneta é a arma do poeta...
que o poeta dispara
e se torna um assassino!


08/06/2015

E o Amor não se Despedaçará...


Lúcia tem uma rosa entre
Os dentes e dança uma música
Muito sensual.
Pedro tem o peito robusto, duro
Como pedra, jamais chorou
com poemas ou doces histórias
de amor.
Angélica quer passar num concurso
Da Policia Federal, ela rompe
Com seu namorado embora sem saber
Que ele seria o único amor verdadeiro
De sua vida.
Lucas é doidão, curte farras, bebidas
E muita putaria, não quer nada
Com a hora do Brasil.
Jasmine pensa que é hippie em 2014,
E o quanto fuma maconha, toma doce,
Toma chá de cogu, ela trepa livre com quem
Compartilha de todo o barato.
Valter quer ser padre, mas votos nem pensar
Antes de comer a priminha de 16 anos.
Helenir, que foi puta tirada da zona,
É fiel ao marido e aos 5 filhos.
Mário, assessor do vereador,
Faria de tudo para com ele passar
Uma noite loucamente agradável.
Joana fez macumba para ter o namorado
Em apenas 3 dias.
Rogério tem um casamento aberto
com Marilda, mas ambos sentem
ciúmes um do outro quando
passam a noite sozinhos.
Jorginho nunca transou com mulheres
Ou rapazes, prefere o videogame
Ao 45 anos de idade.
Gertrudes transou com Deus e o mundo!
Começou cedo, em casa, com seus primos,
Irmãos e seu pai.
Madalena é virgem, mas tem brinquedos
Audaciosos no fundo de sua gaveta
De calcinhas.
Plínio conhece meninas do mundo todo.
É o maior garanhão do Cam4!
Vilma que casar.
Anderson tem um carro bonito
Para azarar as menininhas na saída
Do colégio público.
Penélope acredita na castidade.
Carlos foi corno, mas mantém o seu
Casamento porque ama sua mulher.
Ovídio foi corno e matou o amante de sua mulher.
Roberto foi corno e matou sua mulher e o amante.
Nilton foi corno e matou sua mulher
E ficou com o amante.
Odair foi corno e se matou na frente
De sua mulher e do amante.
Fernanda é linda, uma boneca, olhos d’água,
Lábios de mel, acredita em paixões de livros,
Promessas de casamento e histórias de novela.
Aluísio só pensa nele, e em mais ninguém!
E com tudo isso...
... o amor não se despedaçará.
São Gonçalo, 30/01/2014.

30/03/2015

Uivos Libertinos


Singrando nos mares do desejo, entrando-enterrando-e-errando em carnes macias, aromatizadas e ejaculando memórias e vastidões de sentimentos antagônicos. Perfume de pecado. Pecado é não pecar. Pecado é não gozar nos seios da vida lânguida, no vértice de um musgo feminino, nos lábios intumescidos de desejo, e mergulhar na cadência envolvente dos quadris - entregue às orações proibidas porém entoadas em bares, bordéis, casas de swing, ruas escuras e quartos de hotéis (guardados os eflúvios de mil amantes), provenientes dos uivos libertinos de Sade, Lilith, Dalton Trevisan, Charles Bukowski, Baudelaire, Baco, Jim Morrisson, Pakkatto, John Stagliano, Simone de Beauvoir, Jack Kerouac, Safo, Gregório de Matos, Calígula, Bocage, Rodrigo Santos, Carlos Drummond de Andrade, Tamiry Chiavari, Júlio Cortazar, Madonna, Rod Britto, Henry Miller, Vinícius de Moraes, Pier Paolo Pasolini, Lars Von Trier, Frida Khalo, Luz del Fuego, Almodóvar, Cicciolina, Guilherme Zarvos, Nelson Rodrigues, Mick Jagger, Pomba-Gira, Anaïs Nin, Carlos Alberto Prates Correia, Cazuza, Neil Cassady, Vera Fisher, Salomão, Hilda Hilst, Prince, Laurent Gabriel, Dom Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, Nico, Monica Mattos, Ovídio, Felizpe Frutose, Vladimir Nabokov, Sylvia Kristel, Kátia Flávia-Regininha poltergeist-Marinara... Fausto Fawcett, Larry Flynt, Carlos Orfeu, Rimbaud, Ana Farrah Baunilha, Mario Vargas Llosa, Rita Cadillac, Andy Warhol, Giovanni Boccaccio, John Wilmot, Shirley Fig, Vatsyayana, Tinto Brass, Fabiano Silmes, Pablo Picasso, Dom Juan, Allen Ginsberg, Stanley Kubrick, Petrarca, Freud, Eduardo H. Martins, Peter Ellis, Aleister Crowley, Raffaele Rossi, Giovani Iemini, Valery Bareta, Marilyn Monroe, Àpis, Raul Seixas, Florbela Espanca, Jorge Amado, Millo Manara, Erika Leonard James, Marcelo Farias, Uschi Orbemaier, Leonard Cohen, William Burroughs, Tatiana Ronconi, Michael Douglas, Emmanuelle Arsan, de vários faunos, das putas de Vila Mimosa, das súcubos, dos freiráticos ansiosos por romperem os muros dos mosteiros, da namoradeira que espera o consorte para dar em sua janela que dá para a rua, das seguidoras de Yellamma, das virgens adolescentes nas noites de solidão, das sereias que levam os navegantes contra os rochedos, das viúvas enlouquecidas pelo vinho, do beijo de Drácula, da dança das melíades, da virilidade de Príapo, de todas as indecências e promiscuidades nas cadeias, da polução noturna dos monges, das revelações entre quatro paredes das donas de casa, da secretária obediente, das ninfetas que desfilam nas ruas sem calcinha, dos alunos que sonham com as professoras, dos travestis da Lapa, das matronas saudosas com seus brinquedos de sex shop, dos bailes de Carnaval e de todas as orgias pelos quatro cantos da Terra - e depois de tudo, desfalecer na alcova embriagado de êxtase a espera de mais uma vez, o cio perfeito para pecar.

 

Vídeo gravado no evento Vozes Soturnas, que aconteceu no Porto Pirata, na Praça da Bandeira, RJ, no dia 23/08/14. O texto mudou, sempre muda conforme a relevância putanhesca dos personagens citados.

Inspirado na forma e no ritmo fascinante do texto do poeta norte americano Saul Williams chamado "Def Poetry Jam", escrevi o poema "Uivos Libertinos", em 2012. 

Vídeo gravado por Eduardo H. Martins.

Curiosidade: Os gritos de êxtase ao fundo é do poeta e escritor Rod Britto.

23/03/2015

Partes Partidas


Parti com meu peito partido
para partes de lugares sempre esquecidos.
Inebriado o meu olhar,
insensato o meu sorriso,
parti com o meu peito partido.

Parti com os meus ideais vendidos,
sou um homem estranho
de espírito cansado e vencido.


Um ser esquisito,
de moral utópica abatida
com os olhos de choro embebidos
ou beija-flor do deserto
que corteja a flor perdida.

Sugo o néctar seco do castigo e me sacio
com o acre sabor da ferida!

Parti com meu sonho partido
para partes de um templo esquecido.
Poeira sufoca no ar,
buracos tropeçam no piso,
pois parti com meu peito partido.

Parti com os meus pés escarnecidos,
sou andarilho mundano
com passos tortos e indecisos.


Um ser promíscuo,
viajante imprudente da vida
com os punhos de sangue tingidos
ou beija-flor da cidade
que corteja a flor apodrecida.

Sugo o néctar carbônico dos sentidos e me atingem
com uma bala perdida!


Parti com meu peito partido...


Poema publicado no livro Tudo Que Morre é Consumado (pág. 26, Publicação Independente, 2010).

Vídeo gravado pela Agência Papa Goiaba no evento Uma Noite na Taverna, em setembro de 2014, no SESC São Gonçalo. 

11/12/2013

Pé Frio

Para Rodrigo Santos

Como um boi na fila do abate
olho o mundo através de minha janela,
com um frio na barriga
ouço a canção da chuva
sem saber o que me espera.

A mesma chuva, ela, a chuva,
que testemunhou minha dança nua
e minhas promessas de amor,
cai pesada como lágrimas
enquanto eu quero voltar
ao útero materno e fugir deste terror.

É apenas tears for fears
que toca uma velha canção sobre coragem.
Seu passado hoje se levanta.
Em algum lugar comem esperanças
em pratos vazios.
O grande Molock está morto faz tempo!
Isso não te assusta?

Tome, olhe no meu espelho e tente enxergar, veja se ainda há brilho nos meus olhos. Não é sentido figurado o peso do mundo em minhas costas, posso sentir cada continente raspando em meus pelos e a goteira de mares rios oceanos a escorrerem em meus fundilhos.

Sente o calor?
Então corra, abrace o meu pé e se refresque!
Mas saiba que não é só isso.
Enquanto escrevo este poema,
Rodrigo Santos ainda está numa enfermaria
ouvindo sucessos populares.

São Gonçalo, 11 de dezembro de 2013 de uma semana difícil.

17/10/2013

Falar com o Mundo lá fora

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Dispa-se de sua melhor roupa! Ouça a grama crescer e veja que tudo a toda hora a todo momento, o antes e o agora, o dentro e o fora, toda forma de poder, de foder e de esquecer, o mundo que não conseguimos segurar em nossas mãos diante de nossos olhos mergulhados no vazio, nada está ao nosso alcance... Descanse em paz, siga a seta, tem cheiro de gás nas esquinas – se lembra de quando você brincava no quarto escuro com sua prima? – coma poeira, meça a palmos a parede e se esconda no desen-canto... ruídos, rugidos, pruridos, tempus fugiti... tempo fode-te, tempo corrido, não há fuga, não há vagas, vagabundos e vagabundas se confraternizam na sala de espera do des-espero. Fácil de montar... difícil entender... desfragmentando a vontade de viver. Soma: 1 + 1 = 0 a meio confuso. Tenho dito coisas absurdas na frente do espelho, tenho esperado o cometa Halley desde 1986, tenho espreitado o medo da solidão na frente da tevê com meu pau na mão... Dispa-se da sua melhor roupa! Entenda como as palavras cruzadas nunca se encontram e que o olho do furacão e do cu são cegos e que a palavra que não se cruza com palavra só vale quando escrita e registrada no cartório e que Deus é um só e você O imagina parecido com você e que o gato mia, o pombo arrulha, a hiena chora, o burro zurra, o lobo uiva, o corvo grasna, o cuco cuca, o cão ladra e a caravana passa, o tigre-urso-e-veado bramem a vaca berra e o pau enterra... Dispa-se de sua melhor roupa e deixe sua cabeça no congelador para ver se refresca suas ideias! Eu perdi o meu celular e tenho que comprar outro para falar com o mundo lá fora!

São Gonçalo, 10 de outubro de 2013.

29/07/2013

Canção de Inverno

Paisagem branca...

Frio, eu, solitário,
em devaneio busco
o calor de seu corpo
na lembranças
ver
     ti
       gi
          no
              sas
do enlevo magistral
de nossas carnes...
almas... anseios...

Paisagem branca.

A chuva cai
fina e bela.
A noite chega
serena e saudosa.
o silêncio
se ausenta
e concede  
a dança 
ao suspiro 
fremente 
da brisa gélida.

Paisagem branca.

Eu... frio...
meu maior vazio
é a sua ausência
e sem o brilho 
dos seus olhos,
todas as paisagens
são brancas
e todas as canções
são vazias
como as noites
solitárias de inverno.

São Gonçalo, 25 de julho de 2013.


26/06/2013

Uma Tarde Qualquer

                       
O céu cai sobre a tarde, azul,
fuligens cinzas de imensidão e medo.
Um homem sem nome atravessa a rua
e os carros seguem os seus caminhos
como os pássaros que rasgam o espaço
ao seu redor. Chá frio sobre a mesa,
não há segredos na saudade.
Chamarei esta tarde de vazia
e consagrarei com cuspe esse nome,
na calçada onde morrem os corações
nas vertigens dos sonhos interrompidos.


São Gonçalo, 26 de junho de 2013. 

Sob a Cândida Noite de Inverno

                                                                            Mote

E foi nos vales verdes,
longinguos e frios
sob o sorriso pálido
e resplandecente da lua
- enquanto o vento orvalhado
das árvores dançantes 
tocavam sinuosos
os rubros cabelos -
que ela cavalgou
rumo ao palácio do amor.

...E não houve névoas ou espinhos
que impedissem que o céu fosse
testemunha de um novo começo.

Vem a chuva, busco seu beijo
e torno-me menino a brincar
com seus lábios, enquanto os
meus dedos escrevem uma canção
em seu corpo suave e doce.

O velho abacateiro no alto
da serra, sob a cândida noite
de inverno, testemunhou nossa dança
e nos contou como sobreviver
a tempestades.

Entre flores e vigorosos sussurros,
o calor de nossos corpos nos fez
esquecer o passado frio
de nossas almas.

Então, entre nuvens te desejei
e após o amor, adormeci
num raio ensolarado em seu colo
de estrelas.

São Gonçalo, 24 de junho de 2013.


17/05/2013

A Lua como Lágrimas

Seus olhos são tão tristes que as vezes posso me ver escorrendo através deles. Sabe, as vezes o vento muda de direção e nos traz o cheiro de novas flores.

Isso é bom, os cancioneiros mais antigos entoam versos que falam sobre musas e heróis. E eu escrevendo sobre os vários perfumes das flores.

É verdade que os lírios do passado também me fizeram chorar. Esta noite eu sonhei como um louco jamais sonharia, que sentados à beira do abismo riamos da desgraça do mundo.

Os pássaros nunca cantam para o passado, e diante dos passos, mesmo nas noites de solidão, existe o brilho da lua que resplandece no céu como as lágrimas que, vez ou outra, eu escorro.

São Gonçalo,  16 de maio de 2013.
(Ouvindo Leonard Cohen)

16/05/2013

Céu sem Estrelas

Sentir e não tocar,
amar sem ter,
ter sede e não beber,
ter fome e comer restos.

Cantar um Blues sem voz,
matar a paixão com a
própria alma,
voar sem sair do lugar.

Sem sentido, desconexo,
cego sem guia
no meio da tempestade,
estátua de sal na beira do mar.

Cão sem dono, joio sem trigo,
céu sem estrelas, vontade
de apenas... nada, 
nadar... afundar...
Nada indefinido de um tudo,
nadar no infinito.

São Gonçalo, 2005.

06/05/2013

Amargo e Doce

Ela se diz amarga,
mas vejo a docilidade
em seus olhos castanhos.
Desejo com toda minha
insanidade os seus lábios
e o seu perfume me conta
velhas histórias de amor e me
lembra antigas canções de ninar.

Seu colo, jovem, ardente,
me embriaga em meus
devaneios perdidos e divago
entre as névoas da cidade cinza
que dorme de portas
e janelas fechadas.

Sorrimos e lamentamos
no olho da rua, ela me carrega
pelas mãos para viagens de um
amanhã que já não vislumbro.

Mas, assim mesmo a desejo,
quero tocá-la e saber se é real.
Contenho-me, disfarço,
pois estou velho demais para
enxergar a verdade.

Só o que eu sei, é que o amargo
pode ser tão doce
quanto o meu peito é uma porta
escancarada.

São Gonçalo, 02 de maio de 2013.


12/03/2013

Banquete à Mesa do Rei

Sentado à mesa com o rei,
todos percebem a minha barba de plebeu.
Flerto insistentemente com a dama
enquanto o valete se embriaga
com uma estranha bebida colorida.

Não sei quanto tempo ainda vou aguentar.

Soldados massacram vilas em busca de ouro,
pássaros se calam ao dobre retumbante
dos sinos da solidão, enquanto suo
rios de sangue para as hienas refesteladas
na falsidade.

Não sou mais um bobo da corte,
nem um carrasco, nem cetro
ou espada, nem ao menos
o vento guiado pela mais bela rosa.

Não sei quanto tempo vou aguentar.

As coisas são assim: a vida é um jogo
que se perde, um suspiro não ouvido,
uma frase interrompida...
O rei brinda e sorri e todos sorriem com ele,
e eu sério, sou apontado, zombado,
acusado, renegado... então não aguento.

Me levanto do banquete e sigo para
a concha que me espera.

São Gonçalo, 12 de março de 2013.

26/10/2012

Erotofobia II (Ou O Filho Que Ainda Não Tive)

Ó Deus, o filho que não tive
está escrevendo!
E mesmo que as estrelas caiam
e que o escorpião perca o seu veneno,
escreve maravilhas, ó Senhor!
Escreve versos temerosos,
poemas santos, cartas de amor.

Tem em seu peito a marca do poeta,
um coração latente,
corre nas veias o spleen de escritor
que ama, se embriaga, odeia, mente
e como escreve, ó meu Senhor!
Retrata aflito glórias, tristezas, louvores
e assassina o presente com rancor.

Esse filho que não tive
que escreve com vontade inanimada
(vadio e rei no mesmo lado da moeda),
que segue a esmo e torto pela estrada
sou eu ó Deus, Senhor!
O pai do filho que ainda é o filho
que traz na alma o desamor.

São Gonçalo, 26 de outubro de 2012. 

01/10/2012

A Um Flamboyant Vermelho

O Flamboyant avança sobre o muro
e beija o asfalto.
Flamboyant vermelho,
asfalto cinza...
O molho está salgado,
febre de 39°,
vista embassada,
boca amarga...
A idade avança
e a esperança estagna.
Já não há verdade sob o céu
ou a mentira é tão falsa
quanto sua própria natureza.
E eu, mesmo que me atire
sobre o muro numa folha
de papel e beije o asfalto
- eu encardido, asfalto cinza -
Não passarei de um poema
sem qualquer sentido.

São Gonçalo, 01 de outubro de 2012.
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24/09/2012

O Verme II

Eu vivo de corpo em corpo
como um verme
a sugar a luxúria purulenta
entre curvas e entranhas
doces, amargas, suculentas
e toda mais essência que eu,
o verme, se alimenta.

Vivo, assim, me arrastando,
penetrando em peles negras,
brancas, amarelas e turvas,
e encenando e gozando
em todas as curvas,
o eu verme, se embebeda
do prazer na carne crua.

Bebo, como, me alimento, sugo devasso, como um amante atento, cada sopro de desejo contínuo, e enceno o teatro da alcova escura em que eu, o verme, me apresento.

Fim do ato.
De corpo em corpo, como um verme, eu me reinvento.
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São Gonçalo, 23 de setembro de 2012.
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